Da Capoeira ao Grappling: A Trajetória de um Campeão que Desafia Limites
- Bernardo Passos
- 19 de nov. de 2024
- 6 min de leitura
Nesta entrevista especial para o blog DESTAQUE Luta-Livre, mergulhamos na história inspiradora de um lutador que transformou quedas em vitórias, tanto dentro quanto fora dos tatames. Da infância humilde no Morro dos Macacos à conquista de títulos em competições nacionais e internacionais, ele prova que determinação e paixão podem romper qualquer barreira.
Com uma base sólida na capoeira, ele encontrou na luta livre e no grappling um propósito ainda maior. Além de ser um competidor de alto nível, ele dedica sua vida a ensinar e a organizar eventos que impactam positivamente a comunidade esportiva. Seja reestruturando espaços históricos como a Jaula Grappling ou levando conhecimento para alunos de todas as idades, sua missão vai além das medalhas: ele busca transformar vidas.
Confira, em detalhes, como sua jornada foi marcada por desafios, superações e projetos visionários que prometem revolucionar o cenário das artes marciais no Brasil e no mundo.
Você começou na capoeira em 1994 e seguiu até alcançar a corda preta. Como a capoeira influenciou sua adaptação às lutas agarradas, como a luta livre e o jiu-jitsu?
"A capoeira foi fundamental para o meu desenvolvimento, especialmente na parte psicomotora, e teve um impacto direto nas outras modalidades que pratiquei. Minha jornada na luta livre começou depois de levar uma queda durante uma roda de capoeira, o que me motivou a explorar ainda mais esse mundo. Aos poucos, fui me apaixonando pela modalidade e segui firme nas competições desde então."
Durante sua transição para a luta livre e outras artes marciais, quais foram os maiores desafios técnicos ou culturais que enfrentou?
"Naquela época, os recursos eram escassos, especialmente para alguém como eu, um garoto do Morro dos Macacos. Mas eu me desdobrava para seguir na luta. Mesmo sem muito dinheiro, encontrava maneiras de participar das competições. Trabalhei em várias delas, montando tatames de madrugada, atuando como staff e, às vezes, até na mesa de pontuação. Era uma correria: quando menos esperava, chamavam meu nome para lutar! Uma verdadeira loucura, mas cheia de paixão e dedicação."
Você teve uma pausa forçada devido a lesões e à perda de seu mentor. Como você lidou com esses desafios emocionais e físicos para retornar às competições em 2017?
"Nunca parei de treinar, mas em 2011 me afastei das competições e do treino de alto rendimento como profissional. A perda do meu mentor, Eraldo, foi um dos momentos mais tristes da minha carreira. Ele era um grande motivador, acreditava muito no meu potencial, e seu apoio sempre foi fundamental. Hoje, como professor, sei que carrego um pouco dele em tudo que faço."
"Quando voltei às competições, ainda tinha minhas dúvidas. Sabotava a mim mesmo, dizendo que não estava preparado. Mas um amigo de treino me incentivou a me inscrever. Entrei inseguro, mas no primeiro campeonato ganhei as duas lutas em menos de 30 segundos. Foi ali que percebi que estava bem preparado e, a partir daquele momento, voltei de fato ao mundo competitivo."
Entre tantas conquistas importantes, há algum título ou evento que tenha marcado você de forma especial?
"Ao longo da minha trajetória, conquistei títulos importantes, como campeonatos brasileiros, pan-americanos, estaduais e lutas casadas. Mas o que realmente marcou foram alguns combates memoráveis. Um exemplo foi minha luta contra Maicon Alarcão na Copa Budokan, um evento conhecido pela sua dificuldade, em um combate que durou mais de 30 minutos – apesar de ter perdido, foi uma experiência intensa e enriquecedora. Outro momento especial foi uma final estadual contra Giovanni Diniz, um atleta renomado com diversos cinturões de MMA; consegui vencer essa disputa."
"Tenho também ótimas lembranças das lutas dentro de academias naquela época – eram verdadeiras batalhas, repletas de aprendizado e camaradagem. Agora, minha meta é lutar no mundial No-Gi Master 2 em Las Vegas. Esse é o próximo objetivo que quero alcançar."
Ministrar aulas por mais de 18 anos é uma jornada impressionante. Como você adapta seu estilo de ensino para alunos de diferentes idades e níveis?
"Como mencionei, levo muito do que aprendi com Eraldo, e uma das coisas que mais me marcou foi sua didática diferenciada. Me especializei em dar aulas para todas as idades e também em organizar eventos, sempre buscando transmitir o melhor do que aprendi. Decidi me formar em Educação Física justamente para adquirir um conhecimento mais específico e poder aprimorar ainda mais minha didática. Esse compromisso com o ensino é uma forma de oferecer o máximo aos meus alunos."
Já que você realizou workshops em diversos países, quais diferenças culturais mais chamaram atenção no ensino de lutas?
"Os esportes têm o poder de aproximar as pessoas, e o amor compartilhado pela mesma arte cria uma conexão que minimiza as barreiras culturais. Na capoeira, por exemplo, os estrangeiros precisam aprender a língua portuguesa, o que torna tudo mais fluido e facilita o entendimento."
"Na luta livre e no jiu-jitsu, a didática, centrada na demonstração prática, acaba criando uma linguagem universal. O que realmente me marcou foi perceber o quanto os estrangeiros valorizam o aprendizado das artes marciais. Eles fazem muitas perguntas, demonstram um grande interesse e querem estar sempre ao seu lado para absorver cada detalhe. Esse entusiasmo é inspirador e mostra o poder de união e respeito que as artes marciais podem proporcionar."
A Jaula Grappling tem uma história rica por ser sede de grandes nomes do MMA. Como você resgatou e reestruturou esse espaço para se tornar referência no grappling?
"A Jaula Grappling está localizada em um lugar especial: o espaço que foi a Boxe Thai, onde grandes ídolos do esporte treinaram. Ter a oportunidade de assumir essa academia foi um marco que aumentou ainda mais minha vontade de crescer. A energia do lugar é surreal, mas reestruturar tudo não foi fácil – o espaço estava abandonado há mais de 10 anos. Com a ajuda dos meus alunos, realizamos as reformas aos poucos e revitalizamos o ambiente."
"Além disso, foquei bastante no marketing, especialmente para o grappling, que tem ganhado cada vez mais força no Brasil. Desenvolvemos um trabalho diferenciado e, como não existem muitas academias especializadas em treinos sem kimono na região, conquistamos um grande destaque."
Quais são os próximos passos para o crescimento da Jaula Grappling, tanto em competições quanto na comunidade?
"Iniciei a obra do segundo andar da Jaula Grappling, e em breve teremos aulas simultâneas, além de montarmos o maior ringue de boxe da região. O plano é expandir a parte infantil, continuar investindo e melhorando a estratégia de marketing – que, hoje em dia, é fundamental – e manter nossa equipe de competição ativa e engajada. O objetivo é conquistar o mercado e, quem sabe, alcançar o mundo!"
Você mencionou a criação de eventos de capoeira e grappling. O que mais motiva você a investir nesse trabalho de organização?
"A paixão por criar eventos é algo que tenho dentro de mim. Combinar organização, criatividade e atenção aos detalhes é minha zona de conforto. Quero transformar essa paixão em uma fonte de renda, explorando um mercado promissor. Com minha experiência em esportes e meu amor pelo que faço, estou ansioso para conquistar novos desafios."
Existe algum projeto futuro ou evento que você esteja planejando e queira compartilhar?
"Este ano, em 2024, participei de um projeto em parceria com a Secretaria de Trabalho e Renda do Município do Rio de Janeiro: o Camp in Training. É um evento focado em melhorar a profissionalização de professores que não têm acesso à faculdade ou a cursos especializados e estão começando a dar aulas. Tenho também outros eventos de competição em andamento, mas ainda não posso divulgar muitos detalhes. Espero que, quando forem realizados, tragam ótimos resultados para a comunidade do esporte."
A história deste lutador é muito mais do que uma trajetória esportiva; é uma jornada de superação, dedicação e amor ao que faz. Da capoeira às conquistas no grappling, passando pela reestruturação da Jaula Grappling e a organização de eventos que impactam comunidades, ele prova que o esporte é uma poderosa ferramenta de transformação social.
Com novos projetos no horizonte, como o Camp in Training e o mundial No-Gi, ele segue determinado a escrever capítulos ainda mais grandiosos em sua história. Inspirando alunos, colegas e a comunidade esportiva, sua paixão pelo ensino e pela competição continua sendo o combustível para alcançar seus objetivos.
Ao encerrar essa entrevista, fica claro que sua jornada está longe de terminar. Ele é um exemplo vivo de que, com esforço, foco e coração, é possível transformar sonhos em realidade e deixar um legado que transcende gerações.
Sem medo de errar, faço a afirmativa de q Tropeço é um dos melhores atleta e treinador da EQUIPE JOP. Tropeço é um visionário e tem potencial enorme para fazer a Luta Livre prospectar cada vez mais adeptos.
O Felipe Tropeço é um cara diferenciado em todos os aspectos: como lutador, como professor, como orientador dos mais jovens, e amigo dos mais velhos. Eu estou nesse meio das lutas desde minha adolescência, há 41 anos. Na Luta-Livre e no Jiujitsu poucas vezes vi alguém como ele.
Hoje, me sinto honrado em aprender com ele a cada dia.
Trajetória linda ,lenda das artes marciais
Sensacional a matéria. Muito bom conhecer a história de vida de profissionais tão incríveis quanto o Felipe Tropeço. Parabéns a todos!